sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

UM SEGUNDO



As lembranças bonitas
O que toca o coração
Prosas e rimas;
Uma canção.

As palavras que transbordam
Aos que transformam
Os sentimentos;
Momentos.

O que é mais existência do que a matéria
O que é sólido e se desmancha no ar;
Os presentes que o presente dá.

O que olha
O passado ou o futuro;
A janela

Eu, você;
Nós
Ele e ela.

À vida
Que tece destinos
Com os fios do dia-dia...
Que já foram esquecidos.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

RETORNO DE SATURNO


MEU OLHO
VERDE
DE VER
VERDADES
E TANTA COISA ASSIM
DESCOBRIU QUE AGORA
SÃO AS COISAS
QUE OLHAM PARA MIM.

foto: Carlos Martins, 2004.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

DEDINHO DE PROSA

foto: Rogério Nunes, 2008



Deixo as janelas abertas
E sinto o vento;
Não estou nunca sozinha
Porque invento.
(me reinvento)

Como o gosto
Doce da infância
Como salada de frutas
No desejo e na ânsia

Uva
Passa
Uma
Mão

Que acaricia e trabalha
E pega o que cai no chão.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

MAIS FILMES...



Duas histórias baseadas em livros (Oil!, de Upton Sinclair, 1920 e Onde os Velhos Não Têm Vez, de Cormac McCarthy, 2003); dois atores fenomenais (Daniel Day-Lewis, Globo de Ouro de melhor ator, e Javier Bardem, do recém postado Amor em tempos de Cólera); dois filmes ambientados nos desertos norte-americano (Califórnia e Texas); duas histórias sobre dinheiro e violência (decorrentes da explosão petrolífera da virada do século e do tráfico internacional de drogas); 16 indicações para Oscar (oito e oito, respectivamente!) e uma coisa mais do que relevante em comum: o surpreendente final.

Sangue Negro (There Will Be Blood. EUA, 2007), do escritor e diretor Paul Thomas Anderson e Onde Os Fracos Não Tem Vez (No Country For Old Men. EUA, 2007), dos Irmãos Ethan e Joel Coen, são os nomes dos dramas cinematográficos, excelentes, diga-se de passagem.

O primeiro é a história de vida do pai solteiro e magnata do petróleo Daniel Plainview. Ele descobre numa pequena cidade, Little Boston, a existência de um mar de petróleo. Segue para lá com o filho, H.W. (Dillon Freasier), mas a adaptação na cidade é difícil, sobretudo em função da igreja do carismático pastor Eli Sunday (Paul Dano, ator maravilhoso, desde Little Miss Sunshine, aliás!). Plainview e H.W, tentam a sorte, mas mesmo quando o poço traz toda fortuna, nada permanece igual; valores humanos - amor, esperança, comunidade, crença e elo entre pai e filho - são colocados de lado em função de mortes acidentais ou não, corrupção e fraude em torno da riqueza petrolífera do protagonista.

A segunda história se passa na fronteira com o México, onde o descumprimento de leis contextualiza um novo mundo cujas antigas regras não mais se aplicam. Triste com essa realidade, o xerife Bell (Tommy Lee Jones) representa uma inconsolável nostalgia e forma de resolução de crimes ainda do modo ortodoxo. Nesse clima persegue um texano comum, Llewelyn Moss (Josh Brolin) que se apossou de dois milhões de dólares encontrados na caçamba uma picape cercada por homens mortos com uma carga de heroína. Paralelos à precária perseguição do xerife, poderosos do tráfico também buscam o dinheiro, o que dispara uma violenta reação em cadeia.

Durante a exibição, é de se ficar tensamente grudado na cadeira. Mas é no final que as surpresas se revelam nos filmes: as histórias explicitam como o poder do dinheiro numa sociedade cujo ter sobrepõe-se a qualquer ato de ética ou humanismo é representado por uma violência gritante. Metáforas da vida real.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

SAUDADE


Passou, sem saber, a tarde toda esperando a chuva cair. Queria acreditar que a melancolia que a acompanhava eram apenas aquelas nuvens carregadas do céu.
Espremia em vão as palavras como se com elas saíssem da mente as lembranças de momentos bons, mas que a torturavam pela ausência. Só o gato para ouvi-la. Ela e o relógio que não parava de tictaquear o tempo que não volta mais.
O vazio dos cheiros que musicam, dos ruídos em sabores e, sobretudo de todas as distâncias que silenciavam e traziam com violência o passado na mente.
Caminhos e carinhos. E uma vergonhosa sublimação em aliterações como a angústia de quem não quer parar de escrever, mas já não tem palavras.
Ela é uma velha costureira que sonha fazer uma linda manta de fios de seda dourados, mas só possui alguns retalhos coloridos esgarçados.