domingo, 1 de setembro de 2019

Setembro





Um dia
Duas pessoas
Fizeram uma terceira.

Quatro anos passaram voando
Mas com cinco anos se separaram
A vida tem seus altos e baixos.

Seis anos tinha o filho quando voltaram
E nos sete do menino, para um grande apartamento mudaram.

Oito é um número engraçado
Deitado é o infinito
Mas nesse história
Foi um período difícil

Nós do nove se desfazem
Tempo dos bebês que nascem,
Mas esse ano é 2019
E não sei nada desse nome:

Futuro.

Dez vezes mais duro
Compreender esse sistema obscuro:
Do país, do mundo, da vida, de nosso orgulho.

De se perder
E não  saber mais
O que é de mim ou de você .

Onze meses e muita mudança;
Trabalho, casa, corpo, amores, estudos...
Esperança?

Aos doze tudo finda
Meio dia
Ano inicia
Vida contínua...

Um dia...

terça-feira, 30 de abril de 2019

Corpo complexo







Buscando com calma
Um corpo
Que comporte
Tanta alma.

Um corpo decolonizado
Nem leve
Nem pesado
Mas que pensa
Com o todo e com a parte
Com a razão e com a crença

Um corpo sem medo de envelhecer
Mas que seja forte
Para muito ainda viver
E dar tempo para tanto fazer

No ser além do dinheiro
Que corrompe
Que invade
Que imobiliza
Que isntantaniza
Que sataniza ...
Nossa essência,
Porque vive só de aparência.

E te faz gastar para acumular
Para se ter... sabe-se o que?
E esquecer
Do que sempre estava lá,
Escondido no sofrer.

A vida
Contínua
De beleza e desafios
Seja qual forem os caminhos
Vezes complexos, vezes simples
Longos ou curtinhos...
Sempre estarão lá.

Um corpo nada plastico;
Não é de comprar.
Tudo prático:
É  de trabalhar,
Divertir
Respirar.

Enquanto vivo se está
Colocar descalços os pés no chão
Saber dizer sim  e também dizer não
No caminho
Que se faz ao caminhar.

Corpo é território
Repertório
É espaço
No qual existo e escolho o que faço
Nada nele vai mandar.

Único limite?
Asas que me faltam para voar...



sexta-feira, 8 de março de 2019

8M




No céu a lua
Se parece uma lasca
Da unha!

Vermelha, da Femme fatale
Ou quebrada,
Da mulher coragem

Ambas na luta.

De ser mulher
De saber o que se quer
E mesmo assim se perder

Entre desejos e restrições
Que o mundo de machões
Ainda atravessa em nós.

Mas ver o céu
Essa amplidão que abriga a lua
Faz pensar que a luta continua...

Pois cada estrela que lá brilha
É a nossa ancestralidade que oscila
E  que faz perceber
Que todas elas estão vivas em mim e em vocês;

Mulheres.

No céu somos etéreas,
Eternas.
Mas também somos terra
Telúricas, aquosas e fogosas.
(Às vezes dengosas!)

Emoções;
Vento,
Ventre,
Estações.

Fases como a lua
Esse pedaço de unha
Que arranha
Assanha
Despedaça e reconstrói corações.

Obrigada, mulheres.

Mães, irmãs, amigas, guerreiras.
Vozes unidas,
Companheiras
Da nova era que viemos desenhar.

Era do poder feminino
Da essência,
Do divino
Do nosso maior segredo que é:
Simplesmente amar!




terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

QUATRO HORAS


              

Eu queria estar tomando banho e seguindo o dia normalmente. Mas não me importa estar atrasada para o trabalho, já não consegui dormir essa noite e escrever pelo menos me alivia a mente.

Eu tive insônia a noite toda, mas não foi por causa de um pesadelo, melhor seria. É a realidade cruel demais que supera qualquer profundeza do inconsciente dessa vida.

Eu queria dizer que as notícias são sensacionalistas, que é um exagero midiatíco muito intenso. Mas nem a catarse mais imensa  consegue se aproximar de tamanho sofrimento.

(E catarse passa, alivia. Hoje o que a alma sente é uma dor que não se mede, não se descreve, não se imagina.)

Eu queria que sua dor também fosse apenas na alma, como a minha. Mas não, suas marcas são físicas, seu corpo está  desfigurado, sua face desconstruída.

Eu queria estar ao seu lado, te abraçando, dizendo tudo vai passar. Mas não vai, nunca passa, e os gritos de tantas mulheres desesperadas ainda são chacotas para esse mundo ao contrário.

Eu queria ser sua vizinha e ter escutado o primeiro grito de socorro para arrombar aquela porta em prontidão. Mas outras Elaines gritam, gritaram e gritarão, e ninguém  as escutarão.

Eu queria ter atropelado aquele rapaz  quando ele estava a caminho da sua casa. Eu ia sentir culpa, eu nunca saberia o que eu teria evitado. Mas eu nem mais dirijo nesses dias amargos.

Eu queria poder limpar a sua casa, tirar todas aquelas manchas horrorosas na parede registradas. Mas não haverá sabão, tinta ou qualquer produto capaz de amenizá-las.

Eu queria parar de falar de mim, falar de ti, falar de nós. Mas temos que ser nós, pois a sororidade ainda é a nossa única arma, nossa única voz.

Eu queria tanta coisa para minha vida, para minha sina, meu trabalho, meu filho, meu mundo, meu ser. Mas ainda vejo que a mulher tem que lutar é apenas para sobreviver.

Eu queria somente fazer doce e agradável poesia. Mas cada palavra tem o pesar de tantas feridas...


quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Brumadinho


O rio corre vermelho
Como sangue
O sangue que não se vê
Dos corpos que não se vê.

Correm também  lágrimas
Dos olhos que isso vê;

O dinheiro
Que vale
Mais que a vida

Vale da tristeza.

Quanto vale?
O minério
Do ferro da terra
Que fere a terra.

O vale.
A vala.

Que carrega os corpos
Ocultos na lama
Tão vermelha
De tóxica poeira.

O ferro da terra ferida
A ferritina do sangue escondido
Dos tantos corpos que não se vê.