segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Outras Madrugadas

 


Eu acordo

Nesse acorde 

Que me pauta

Em dissonâncias.


Insônia.


Me acompanha

Na vida um sonho

Que se arranja


Em escala

Sem fala

Sem dó

Eu só...


Eu sol.


Lá no peito

Não tem jeito

En- canto

Num canto

Profundo 

Entre solfejo

E desejo.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Novo ano







Tempo
É  a única coisa que tenho
E não tenho
Temo
E sigo nele
Com ele
Atravessado por ele
Sendo
Sobrevivendo
morrendo a cada dia
Que vou vivendo
Entendendo
Um  pouco mais
Do eu que era lá atrás
E que me faz o que hoje sou
Sem saber do amanhã
Mas no afã
De conhecer
O que meu ser
Se revelou
Através dele
O tempo
Que tanto sabe
Que tanto me ensinou...

domingo, 1 de setembro de 2019

Setembro





Um dia
Duas pessoas
Fizeram uma terceira.

Quatro anos passaram voando
Mas com cinco anos se separaram
A vida tem seus altos e baixos.

Seis anos tinha o filho quando voltaram
E nos sete do menino, para um grande apartamento mudaram.

Oito é um número engraçado
Deitado é o infinito
Mas nesse história
Foi um período difícil

Nós do nove se desfazem
Tempo dos bebês que nascem,
Mas esse ano é 2019
E não sei nada desse nome:

Futuro.

Dez vezes mais duro
Compreender esse sistema obscuro:
Do país, do mundo, da vida, de nosso orgulho.

De se perder
E não  saber mais
O que é de mim ou de você .

Onze meses e muita mudança;
Trabalho, casa, corpo, amores, estudos...
Esperança?

Aos doze tudo finda
Meio dia
Ano inicia
Vida contínua...

Um dia...

terça-feira, 30 de abril de 2019

Corpo complexo







Buscando com calma
Um corpo
Que comporte
Tanta alma.

Um corpo decolonizado
Nem leve
Nem pesado
Mas que pensa
Com o todo e com a parte
Com a razão e com a crença

Um corpo sem medo de envelhecer
Mas que seja forte
Para muito ainda viver
E dar tempo para tanto fazer

No ser além do dinheiro
Que corrompe
Que invade
Que imobiliza
Que isntantaniza
Que sataniza ...
Nossa essência,
Porque vive só de aparência.

E te faz gastar para acumular
Para se ter... sabe-se o que?
E esquecer
Do que sempre estava lá,
Escondido no sofrer.

A vida
Contínua
De beleza e desafios
Seja qual forem os caminhos
Vezes complexos, vezes simples
Longos ou curtinhos...
Sempre estarão lá.

Um corpo nada plastico;
Não é de comprar.
Tudo prático:
É  de trabalhar,
Divertir
Respirar.

Enquanto vivo se está
Colocar descalços os pés no chão
Saber dizer sim  e também dizer não
No caminho
Que se faz ao caminhar.

Corpo é território
Repertório
É espaço
No qual existo e escolho o que faço
Nada nele vai mandar.

Único limite?
Asas que me faltam para voar...



sexta-feira, 8 de março de 2019

8M




No céu a lua
Se parece uma lasca
Da unha!

Vermelha, da Femme fatale
Ou quebrada,
Da mulher coragem

Ambas na luta.

De ser mulher
De saber o que se quer
E mesmo assim se perder

Entre desejos e restrições
Que o mundo de machões
Ainda atravessa em nós.

Mas ver o céu
Essa amplidão que abriga a lua
Faz pensar que a luta continua...

Pois cada estrela que lá brilha
É a nossa ancestralidade que oscila
E  que faz perceber
Que todas elas estão vivas em mim e em vocês;

Mulheres.

No céu somos etéreas,
Eternas.
Mas também somos terra
Telúricas, aquosas e fogosas.
(Às vezes dengosas!)

Emoções;
Vento,
Ventre,
Estações.

Fases como a lua
Esse pedaço de unha
Que arranha
Assanha
Despedaça e reconstrói corações.

Obrigada, mulheres.

Mães, irmãs, amigas, guerreiras.
Vozes unidas,
Companheiras
Da nova era que viemos desenhar.

Era do poder feminino
Da essência,
Do divino
Do nosso maior segredo que é:
Simplesmente amar!




terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

QUATRO HORAS


              

Eu queria estar tomando banho e seguindo o dia normalmente. Mas não me importa estar atrasada para o trabalho, já não consegui dormir essa noite e escrever pelo menos me alivia a mente.

Eu tive insônia a noite toda, mas não foi por causa de um pesadelo, melhor seria. É a realidade cruel demais que supera qualquer profundeza do inconsciente dessa vida.

Eu queria dizer que as notícias são sensacionalistas, que é um exagero midiatíco muito intenso. Mas nem a catarse mais imensa  consegue se aproximar de tamanho sofrimento.

(E catarse passa, alivia. Hoje o que a alma sente é uma dor que não se mede, não se descreve, não se imagina.)

Eu queria que sua dor também fosse apenas na alma, como a minha. Mas não, suas marcas são físicas, seu corpo está  desfigurado, sua face desconstruída.

Eu queria estar ao seu lado, te abraçando, dizendo tudo vai passar. Mas não vai, nunca passa, e os gritos de tantas mulheres desesperadas ainda são chacotas para esse mundo ao contrário.

Eu queria ser sua vizinha e ter escutado o primeiro grito de socorro para arrombar aquela porta em prontidão. Mas outras Elaines gritam, gritaram e gritarão, e ninguém  as escutarão.

Eu queria ter atropelado aquele rapaz  quando ele estava a caminho da sua casa. Eu ia sentir culpa, eu nunca saberia o que eu teria evitado. Mas eu nem mais dirijo nesses dias amargos.

Eu queria poder limpar a sua casa, tirar todas aquelas manchas horrorosas na parede registradas. Mas não haverá sabão, tinta ou qualquer produto capaz de amenizá-las.

Eu queria parar de falar de mim, falar de ti, falar de nós. Mas temos que ser nós, pois a sororidade ainda é a nossa única arma, nossa única voz.

Eu queria tanta coisa para minha vida, para minha sina, meu trabalho, meu filho, meu mundo, meu ser. Mas ainda vejo que a mulher tem que lutar é apenas para sobreviver.

Eu queria somente fazer doce e agradável poesia. Mas cada palavra tem o pesar de tantas feridas...


quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Brumadinho


O rio corre vermelho
Como sangue
O sangue que não se vê
Dos corpos que não se vê.

Correm também  lágrimas
Dos olhos que isso vê;

O dinheiro
Que vale
Mais que a vida

Vale da tristeza.

Quanto vale?
O minério
Do ferro da terra
Que fere a terra.

O vale.
A vala.

Que carrega os corpos
Ocultos na lama
Tão vermelha
De tóxica poeira.

O ferro da terra ferida
A ferritina do sangue escondido
Dos tantos corpos que não se vê.