quarta-feira, 20 de maio de 2009

Rio mais...

(2009, por HL)
(2004, a Ju que picotei...)


Há cinco anos, quando fiz meu primeiro trabalho com imagem pessoal custei a me reconhecer. Ao ver as fotos, sentia no peito uma angústia, o rosto dela não se parecia nada com a voz, o que tanto pensava; o pensamento que tanto falava.
Falava em mim, falava demais. Falava desejos, falava saudades, falava sentimentos, falava vontades, falava mentiras e verdades, falava ansiedades, falava procura, medos, força e fragilidade, falava alegrias e tristezas, falava estudos, trabalhos e espiritualidade.
Ela, ali, uma foto parada e silenciosa. Angustiava-me tanto que senti um enorme prazer no dia em que a picotei. Olhos, braços, boca e pernas agora fragmentadas, na agenda, calada e colada. Ela, desconstruída, virou arte. E as palavras de Brecht ilustraram a obra: ”Do rio que tudo arrasta se diz violento, mas não se dizem violentas as margens que o oprimem”.
Não sabia que margens eram essas no meu pensamento. Na verdade, até hoje não sei, mas ao menos aprendi a conviver com minha própria imagem. Fiz outros trabalhos e hoje nas fotos novas vejo que ela é uma mulher que já sabe se olhar no espelho, mesmo tendo ainda espelhos que não se reconheça. A voz fala mais baixa, devagar, às vezes até cala.
Gosto de gente. Gosto de trabalhar, gosto de cultura, de chocolate, vinho, café. Já não gosto mais de cigarros. Adoro estudar, viajar, ouvir música, ver filme, conhecer coisas novas, desafios. Amo amar. E me conhecer. E rever velhas e novas imagens de e em mim, pois agora não preciso mais picotá-las.
Confio na hora certa de compreender o que a vida escolhe para mim, aceitar e fazer disso o melhor. Hoje aprendi que eu sou o rio, vezes lento, vezes violento, é bom ser assim, sempre fluindo. Das margens é que não sei, mas tenho fé.
Ela e eu: o espelho, a imagem, a foto. A fala e o silêncio que vem na hora exata. Questão de tempo.

terça-feira, 5 de maio de 2009

STURM UND DRANG

(foto de Herickson Laurindo, abril 2009)

Rio de janeiro, em fevereiro, março, abril e maio. Rio que corre e eu quase em vinte nove. Adolescer da vida adulta.
Remar e rimar sobre sonhos e desejos; concreto e o que se renova, sempre em descobertas: corpo, mente, alma e calma. Agora, rio da ansiedade de outrora.
Bebo a vida devagar para saborear cada gole que escorre. Como o rio.
Só rio e choro menos, mesmo sabendo que dentro de mim continua água que vez em quando transborda em lágrima.
Decisões e decidida, virou mulher a menina. Liberdade e conquista.
Rio que vira asa, rio que vira casa, retorno de saturno.
Deixa eu ver, deixa chover porque a água purifica a alma. Ímpeto e tempestade e o tempo que não para.
Por isso navegar, navegar...