terça-feira, 18 de setembro de 2007

CENTELHA

Na fluidez do voar gaivota ninguém pensou na dor das suas costas. Sim, já havia machucado ossos, carne, penas, peito e articulação. Mas sempre que se sentava na janela e via o horizonte queria descobrir o que existia depois do fim. E caiu, e sofreu, e se machucou. E voou sozinha e quase foi, mas voltou. Mas sabia que uma hora iria para sempre. Sabia que ser gente não bastava, por isso nascera alada. Mas sabia que ser anjo não bastava; queria ser ave. E ser ave não bastava porque finalmente voou, mas queria mais. Queria as estrelas e todo o céu, queria o infinito. E lembrou que nem a dor de bater as asas até cansar para voar e ser como folha ao vento era tão forte como a dor do desejo de tudo conquistar. E se descobriu anjo triste porque tudo podia, e no fundo, não podia nada; era ela o próprio universo.

5 comentários:

Maquinaria de Linguagem disse...

O que transcende, a centelha, a chispa que vai do concreto aquilo que Bataille chama de a "criação no meio da perda". O brilho apaga e acende mais adiante. Belo fragmento. Beijo.

Arthur disse...

Muito bonito. O universo que somos... legal.

bjsss

O Profeta disse...

Olá Ju, quem és tu? Que és imensa no sentir...
Às vezes o pensamento incontido
Solta-se na manhã perpétua
Aprisionado em gotas de orvalho
Choradas por uma feiticeira Lua

Bom fim de semana

Mágico beijo

Anônimo disse...

É quando somos apenas o que podemos ser, mas somos tudo!

Meu lindo pôr-do-sol!

=)

Daniel Caron disse...

Mais um texto delicioso.

Parabéns!