sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

RETROSPECTIVA



Há um nevoeiro na paisagem
Misto de chuva e calor
Mas sei que é o Véu de Maia
Que veio aqui ao meu favor.


Gratidão, palavra-chave,
Com uma grande porção de amor.

Muitos desafios,
Algumas taças de vinhos
Muitas conquistas
Algum temor.

Faz parte da vida.
Porque até a planta
Para nascer sente dor.

Semente que rasga a terra
Buscando alimento, luz e calor.

Somente sou eu
Sentimento fin-de-sciècle
Para o ano que acabou.

Raízes na terra
Se  agarram  com força
Drummond me ensinou...

Juliana, você é telúrica!

São raízes fortes
Para crescer alta
Em direção ao céu.
Cúmplice de Maia,
Compartilhando do mesmo véu.

Saber voar com os pés no chão.
Vezes sim,
Vezes não.

Palavar-chave: Gratidão.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

O que me leva
E o que me traz
O tempo.

Pensamento,
Sentimento
Enfrentamento

De mim.

Sorrateiro
Constante
Sagaz
Sem fim

Sempre presente
Carregando meu passado
Preparando meu futuro
Tanto que nem sei...

Na cabeça muitas idéias
E cabelos de outrora dourados,
Agora grisalhos
Muito mais ouro valem

Com muito orgulho.

Mergulho

Cada vez mais profundo
Nesse mar sem fundo
Do viver

Só ser
Estremecer ao saber
Que cada vez menos serei

E deixar assim a vida mesmo responder
As ânsias que pareciam não caber

Sempre fui assim
Mas agora mais calma
Vou compreendendo minha alma
E tantos desejos que habitam aqui

Essa casa
Tão arejada
De liberdade
Onde entram e saem passarinhos
Que me convidam a voar...

Vou lá
Encontrar a poesia esquecida
Na correria do dia a dia
Mas que está La, adormecida
Me esperando para acordar.

Me desfaço
De tanto autos retratos
E compreendo
Que tenho muito mais o que mostrar...

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

A volta do malandro



         Dos últimos três shows do Chico Buarque  que assisti: "Carioca" em 2008 (Teatro Guaíra, Curitiba); a turnê do álbum "Chico" em 2012 e  agora "Caravanas" (os dois no Vivo Rio), digo enfática e categoricamente que  esse último foi o melhor de todos. E arrisco a dizer que foi um dos melhores shows de toda minha vida!
         Primor do inicio ao fim em todos os quesitos: a elegância do figurino; a estética clean do cenário; a sutileza da iluminação - um espetáculo a parte; os músicos maravilhosos que o acompanham com destaque para Bia Paes Leme em "Dueto"; a escolha do repertório das composições antigas e claro, a graça das músicas do novo álbum.
         O músico e sua embaixada abrem o espetáculo mostrando que vieram para arrasar e resgatar o vigor e musicalidade do velho Chico, o que não se viu no show de 2012.     Com muito mais músicas, “Caravanas” trás na seqüência “Mambembe”, “Partido Alto” e a eternamente “Iolanda”, do repertório antigo, e “Casualmente” e “A moça do sonho”, ambas do álbum que se lança.
         Em seguida a homenagem em bom e para o Tom ficou com “Retrato em Branco e Preto” e já no final do show com a emocionante “Sabiá”. E como não poderia deixar de ser, o saudoso Wilson das Neves também foi homenageado, com direito a chapéu e tudo.
       Para quem, como eu, ama as composições dramatúrgicas do Chico, a deliciosa oportunidade de ouvir alguns clássicos de a “A ópera do Malandro (com bônus de “Geni e o Zepelim”, no bis) e de “A gota d´água”. Mas o auge, sem dúvida, foi “A história de Liliy Braun” que emendou com a “Bela e a Fera” num arranjo de jazz tão fantástico que trouxe a tona toda a mística e emoção do Grande Circo.
         Aliás, um parágrafo de destaque para falar dos arranjos incríveis desse show; mérito de Luiz Cláudio Ramos, que assina os arranjos dos Shows de Chico há décadas e é também quem toca violão e guitarra no espetáculo.
         As músicas do novo álbum tem a cara do Chico de outrora. Só ele para tratar com tanta poesia de questões sociais. "Blues para Bia" é jocosa ao falar de uma garota homossexual. Atualíssima em época de empoderamento feminino e defesa de direitos às diversidades. A música que nomeia a turnê é uma luvada de pelica na elite branca carioca. Versos ousados como “E essa zoeira dentro da prisão/Crioulos empilhados no porão” apontam uma realidade que não mudou muito  nessa caravana que segue desde o Brasil escravocrata.

         Aliás, para mim, que ha quase 8 anos resido no Rio, o show teve um toque muito, muito especial, pois só agora entendo na pele, na alma, na minha história o significado de Real grandeza, Simpatia é quase amor, Mangueira, São Sebastião e de tantas outras faces desse Rio de beleza e caos que abriga na sua poética um dos maiores artistas do país. Ode ao Chico!   Minha humilde homenagem a volta do malandro.