segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

A volta do malandro



         Dos últimos três shows do Chico Buarque  que assisti: "Carioca" em 2008 (Teatro Guaíra, Curitiba); a turnê do álbum "Chico" em 2012 e  agora "Caravanas" (os dois no Vivo Rio), digo enfática e categoricamente que  esse último foi o melhor de todos. E arrisco a dizer que foi um dos melhores shows de toda minha vida!
         Primor do inicio ao fim em todos os quesitos: a elegância do figurino; a estética clean do cenário; a sutileza da iluminação - um espetáculo a parte; os músicos maravilhosos que o acompanham com destaque para Bia Paes Leme em "Dueto"; a escolha do repertório das composições antigas e claro, a graça das músicas do novo álbum.
         O músico e sua embaixada abrem o espetáculo mostrando que vieram para arrasar e resgatar o vigor e musicalidade do velho Chico, o que não se viu no show de 2012.     Com muito mais músicas, “Caravanas” trás na seqüência “Mambembe”, “Partido Alto” e a eternamente “Iolanda”, do repertório antigo, e “Casualmente” e “A moça do sonho”, ambas do álbum que se lança.
         Em seguida a homenagem em bom e para o Tom ficou com “Retrato em Branco e Preto” e já no final do show com a emocionante “Sabiá”. E como não poderia deixar de ser, o saudoso Wilson das Neves também foi homenageado, com direito a chapéu e tudo.
       Para quem, como eu, ama as composições dramatúrgicas do Chico, a deliciosa oportunidade de ouvir alguns clássicos de a “A ópera do Malandro (com bônus de “Geni e o Zepelim”, no bis) e de “A gota d´água”. Mas o auge, sem dúvida, foi “A história de Liliy Braun” que emendou com a “Bela e a Fera” num arranjo de jazz tão fantástico que trouxe a tona toda a mística e emoção do Grande Circo.
         Aliás, um parágrafo de destaque para falar dos arranjos incríveis desse show; mérito de Luiz Cláudio Ramos, que assina os arranjos dos Shows de Chico há décadas e é também quem toca violão e guitarra no espetáculo.
         As músicas do novo álbum tem a cara do Chico de outrora. Só ele para tratar com tanta poesia de questões sociais. "Blues para Bia" é jocosa ao falar de uma garota homossexual. Atualíssima em época de empoderamento feminino e defesa de direitos às diversidades. A música que nomeia a turnê é uma luvada de pelica na elite branca carioca. Versos ousados como “E essa zoeira dentro da prisão/Crioulos empilhados no porão” apontam uma realidade que não mudou muito  nessa caravana que segue desde o Brasil escravocrata.

         Aliás, para mim, que ha quase 8 anos resido no Rio, o show teve um toque muito, muito especial, pois só agora entendo na pele, na alma, na minha história o significado de Real grandeza, Simpatia é quase amor, Mangueira, São Sebastião e de tantas outras faces desse Rio de beleza e caos que abriga na sua poética um dos maiores artistas do país. Ode ao Chico!   Minha humilde homenagem a volta do malandro.

Um comentário:

Salve Jorge disse...

Como quem pisa nos corações...