Tinha uma linda escultura de bexigas nas mãos. A criança ganhou o dia; na sua dimensão de tempo ganhou a vida. Era feliz com sua borboleta feita de balões rosa e colorido. Aquelas bolas que na verdade revelavam a beleza do que não se vê, do essencial invisível aos olhos: o ar, onipotente e onipresente. Onisciente só nós, que escrevemos, lemos e sentimos. Nós os/nos nós adultos que pensam já saber do destino da feliz criança com sua escultura inflável e infalível de cores. Muito mais além do ar é o que não se vê. Sutil pretensão que só vale pelo deleite da idade, da sapiência, do sonho de liberdade e saudade da infância já que é a eterna contradição: criança passa e infância fica. E uma coisa é certa: em breve serão balões murchos, senão estourados. Aí é melhor esquecer que um dia existiram e motivo para tanta felicidade? Esquecer... Rituais se repetem no ingênuo rosa de hoje que pode virar a frescura e a falsidade de amanhã. Mas todos humanos, por que julgar? Queria ser leve como o ar. Como o balão. Voar. Silêncio, pausa e o prazer inesgotável quase esquizofrênico da palavra e das lembranças. E, é claro, um pouco mais do que o sobre. Viver.
A temporada de um velho
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“A velharia poética tinha boa parta na minha alquimia do verbo.”
Arthur Rimbaud
A vida serpenteia na solidão de Rimbaud, o melhor de tudo é o son...
Há 3 meses