terça-feira, 10 de junho de 2008

SOPRO

(olhos meus, por Carlos Martins, 2004)

Tão vida bebe no peito, o bebê. O pai carrega para o carro a criança no sono de seus cinco anos. Os de uma década no teatro não percebem que lhes passou uma tarde porque estavam ocupados sendo rei, princesa ou dragão. A mãe sofre baixinho ao ler escondida o diário da adolescente que deixou para trás a virgindade. E sofre alto na conversa que revela - o que no fundo já sabia- o filho maior de idade: gay. Uma família de adultos unida da pior forma: deitados no tapete, sob a mira de bandidos num assalto. Os pensamentos de ansiedade aquietaram na mulher e a torturante espera de outrora é o conforto de agora. Enquanto isso a lua é linda e as estrelas permanecem. Testemunhas incompetitíveis. Um trago de cigarro, um gole de chá que esfria e música, sempre música, que trás o profundo silêncio. O olhar se eterniza em presentes palavras. Um sopro de tempo em cada geração, tudo que foi, é e será. Igual. Crianças que crescem e infância que fica. No peito bebe o bebê. O que foi leite e agora é vinho. Sempre bem vindo. Tão vida.

33 comentários:

O Profeta disse...

Fantástico texto...!


Doce beijo

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá Juliana, texto espectacular...
Beijo

Tudo ou nada ... disse...

Toda vez que leio seus textos eu viajo, e isso me faz muito bem.
Bjos

efvilha disse...

Dizeres tão Ju, tecelã de sentires trançados nos teares da vida pensada.
É sempre gostoso enrolar-me nos teus tecidos de enredadas letras.

Beijo de Paz, em ti, Ju.

Anônimo disse...

que texto! para ser lifdo, relido, guardado, pego de novo. belíssimo, Juliana. abraços.

Liz / Falando de tudo! disse...

Bonito, profundo, tocante...adorei viajar neste teu texto.
Passo pra te desejar um bom final de semana!
Beijos

Anônimo disse...

rssss...se continuar assim, vou acabar copiando todos os seus textos...rsss...esse também foi mais uma vítima...rssss...sei que não é seu, mas se tá aqui foi idéia sua colocar..rss...beij!ao do seu amigo aqui!

http://sampameulugar.wordpress.com

Ju disse...

todos os textos do blog são meus, baby!!!
beijos!
:)

Maquinaria de Linguagem disse...

Forte. Cortante como a lâmina dos teus olhos contra o mal. O seu texto me embebeu por inteiro. Hoje pela manhã disse que tinha gostado, mas não tinha lido de perto. Aí tem mais que vem de ti do que se imagina. Meu beijo de saudade.

J Araújo disse...

Lindo,lindo! Parabéns!

Com certeza voltarei outras vezes.

Ígor Andrade disse...

Uma composição vital!

Grande abraço!

Joice Worm disse...

Ju, acho graça a nossa evolução e aceitação de um homem gostar de outro homem e uma mulher gostar de outra mulher. Acho que por pensarmos só em sexo, o choque é inevitável. Não sei porque é tão dificil pensar na amizade e carinho entre dois seres humanos. A culpa é dos parâmetros da nossa Sociedade. Mas, de qualquer forma, dá para inspirar belos textos como este seu. Gostei mesmo. Um beijo grande da Joice.
(Obrigada pelo coment do Anjo no Pequeno Milagre!)

Isabel disse...

otimo texto.
é mais ou menos o retrato de algumas familias que eram conservadoras,e por oprimirem os filhos,se torna 'moderna'.

Ju disse...

Isáh querida!!!
o texto não é nenhuma crítica ao conservadorismo não... é uma metafóra poética do amor familiar, com todas as dificuldades, e ao tempo que passa para todos... beijão e obrigada pela visita!

. fina flor . disse...

é verdade, algumas músicas trazem silêncios profundos ;-)

querida, não sei se canto como escrevo, sei que os faço com a mesma entrega!

você é uma flor!

beijos

MM.

Anônimo disse...

Muito belo , bem incisivo forte..
Vidas vividas , sentidas..
Adoro a forma como escreves..

Beijo

efvilha disse...

Tanto mistério há no fragmentado dizer das letras; mistérios tão grandes quanto aqueles que a cada instante são presos nos segundos martelados do cronológico girar das horas.

Beijo de Paz.

Nanda Nascimento disse...

Muito bom!!
Vim agradecer pela vista no Xdosexo e encontro um texto maravilhoso.

Beijos e flores!!

Guilherme F. disse...

Agradeço as tuas palavras. Gostei muito deste Sopro...de vida.
bj
Gui
coisasdagaveta.blogs.sapo.pt

Anônimo disse...

Gostei muito do seu blog, descobri lá no blog do Fernando. Sou nova e meu blog parece um diário. Tenho ficado fascinada com as coisas que tenho descoberto nessas viagens.
Esse texto ficou aqui em mim de uma forma surpreendente, deve ser a lua e esse sentido de abraçar as coisas no dia de hoje.
Abraços.

Artsy-Fartsy disse...

Crônica interessante, que nos põe confusos sobre se real ou ficta (e mais: sobre se há o tão-só real e o tão-só fictício), senão mista de ambos - e eis aí a força das idéias, como as há em Lobo Antunes, por exemplo.
Gostei muito.

cheguevara disse...

Juliana, lindo nombre*
recién me doy cuenta*{+
abracio forte
CHE

Fernando Niero disse...

Atualiza, Pô
:)

Heduardo Kiesse disse...

poderosa poemicista!!
conseguiste me envolver...

beijão com a beleza das tuas palavras!

quanto pesa o vento? disse...

"Um trago de cigarro, um gole de chá que esfria e música, sempre música, que trás o profundo silêncio. O olhar se eterniza em presentes palavras."

adorei.
escreve bem.
abraço.

Adriano Veríssimo disse...

Puxa que texto bom...mto bacana!

Parabéns pelo teu canto! Voltarei várias vezes a suas terras...rs

Beijo

Marcelo disse...

Um retrato belo e trágico, aos meus olhos...Talvez cotidianidades.

Beijinhos

Fragmentos de Elliana Alves disse...

Estou com saudades...rsrss...Perde a senha do antigo blog,então fiz outro,bjssssss e bom dia!!!

vem me visita!

Fragmentos de Elliana Alves disse...
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Fragmentos de Elliana Alves disse...
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Lord of Erewhon disse...

Abandonou o blogue? Está tudo bem com você?

Beijo.

Oliver Pickwick disse...

"Tão vida". Disseste bem! Mais vida que esta da sua narrativa, impossível.
Aprecio o seu "olhar". ;)
Um beijo!

Rackel disse...

Nossa, q lindo esse texto! Micro historias no meio do caos urbano... poeticamente fascinante!

bjs