Eu quero falar sobre o Diário da China de Morin, das Olimpíadas e a censura de Pequim, do absurdo que cometem com os Tibetanos. Eu quero falar dos livros que li, das peças de teatro que vi, das músicas que amo tal qual os polifenóis do vinho, o sabor do chocolate, o prazer no que como e também falar da carne vermelha que não como. Quero falar de como sinto a presença de todas as cores. Quero falar da minha infância, das minhas ânsias e das minhas crianças. Com elas aprendo ensino. Ensino a genialidade de Boal, mestre brasileiro como Niemeyer, Paulo Freire, Chico Buarque, Drumond. Quero falar de todos eles e outros mais. Eu quero falar que tenho desejos de mulher e um rosto angelical, uma alma velha e uma malícia terna. Eu quero falar do caos, do quântico; da partícula e do astronômico. Eu quero falar dos 111 presos assassinados no Carandiru, de Carajás, da Candelária, dos três “Cs” que marcaram minha adolescência e dos Cs do PCC que marcam a vida contemporânea. E que se relaciona com a Colômbia, que quero falar, que me lembra Venezuela, que me lembra a Cuba que morei e quero voltar. As veias abertas da América Latina não me bastam porque também me lembram a Europa que quero visitar, que me lembra o francês que estou sem tempo de estudar, e, quiçá o Doutorado que não paro de planejar. Eu quero todas as letras, todas as palavras, todos os verbos que me completem em minha incompletude que às vezes é tão forte, mas que volta-e-meia se vê tão fraca e perdida. Porque esse mar de quereres me empurra, me afoga, me domina como as tardes caóticas entre meus alunos em processo de criação no barulho da imagem em a ação; a imaginação. Eu quero tudo e tudo não me basta porque também quero profundo. Cinema, faculdade, cachoeira. O oceano é pouco, estrela é pouco, a mitologia, a física e a metafísica, a epistemologia é pouco. Queria a sutileza de um haicai, mas hoje em mim não cabe. Só esse bloco de texto, de quereres, sem mais palavras. Só. Pó. De concreto e concreta poesia em construção.
A temporada de um velho
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“A velharia poética tinha boa parta na minha alquimia do verbo.”
Arthur Rimbaud
A vida serpenteia na solidão de Rimbaud, o melhor de tudo é o son...
Há 3 meses